A ideia principal desta sessão é pegar dicas com profissionais, já experimentados no assunto, sobre seus home studios e compartilhar, para que outros músicos e produtores encontrem sempre o melhor jeito de fazer música em casa. Dos mais sofisticados e caros aos mais simples e modestos, o foco sempre será a possibilidade de fazer música de um jeito que facilite e estimule a produção artística.
Conhecido como “Escultor do Vento”, o músico carioca Carlos Malta é multi-instrumentista, arranjador, compositor, educador e domina toda a família de saxofones e flautas.
Carlos Malta, em 1981, aos 20 anos, entrou para o grupo de Hermeto Pascoal onde permaneceu por 12 anos, participando da gravação de cinco álbuns e de inúmeros festivais e concertos realizados pelo Brasil e pelo mundo. Além disso, trabalhou com diversos outros artistas do calibre de Lenine, Gilberto Gil, Dave Matthews band e ainda lançou diversos álbuns solo e com seus grupos Pife Muderno e Tudo Coreto.
Carlos Malta: Sim, mas você precisa ter um lugar para gravar, pra deixar isso registrado. Eu uso um MacBook Pro antigo, de 2010, e acoplei nele uma placa, a Focusrite 2, com dois canais. O microfone é o que vem junto no pacote da Focusrite. É um microfone condensador, um microfone bom, tem uma ótima captação, grava bem voz, grava bem tudo, percussão, instrumentos de sopro… é uma coisa muito simples e bem portátil, você não precisa ficar preso em lugar nenhum. Bota na Mochila, vai gravar lá em cima do morro, liga esse negócio e tá lá, pode gravar.
No áudio acima, Carlos Malta fala sobre o mínimo essencial para fazer uma boa gravação de flautas em home studio.
Carlos Malta no seu Home
Carlos Malta: Eu participei de várias coisas bem legais com muita gente, nesses vídeos com Janelinhas, tem uma versão muito bonita de “Para Todos”, com o pessoal de São Paulo, na verdade, pessoal do Brasil todo. É um trabalho que a gente fez no início da pandemia, aquela música do Chico Buarque. Gravei também pra um amigo, pra fora do Brasil, a maioria coisas em vídeo. E os discos do Pife Muderno, em homenagem ao Gilberto Gil, muita coisa gravei aqui, mas refiz lá no home studio do Marcos Suzano.
Performance de “Paratodos”, onde Malta toca com vários outros artistas de vários lugares do Brasil. Grande parte, gravando de casa.
Marcos Suzano é um percussionista, compositor e produtor com mais de 40 anos de carreira. Já trabalhou com alguns nomes pesos-pesados como Lenine, Alceu Valença, Gal Gosta e Sting. O músico também possui uma discografia solo muito produtiva e faz parte com Carlos Malta do Pife Muderno. Suzano já gravou nos melhores estúdios do Brasil e do mundo, mas, atualmente, ele grava um grande volume de trabalho no seu próprio home studio.
Com tantos anos de estrada, ele faz questão de ter em mãos um equipamento de alto nível para fazer o registro de sua percussão.
Marcos Suzano: Como DAW, uso Pro tools. A interface de áudio é a inglesa Prism Sound Orpheus e como preamps, um par de Neve 1073, um par de UAD 2-610 e ainda um Fatso da Empirical Labs. Só artilharia pesada.
Meu microfone preferido para gravar o pandeiro é o microfone de fita Royer 121, além dos Neumann TLM102, 103, um par de Km184, Telefunken M82 e um par de Shure SM57. Arsenal completo.
Marcos Suzano: Escolheria o API 512 e o Neumann U87.
No áudio acima, como o Home Studio facilitou o trabalho de Marcos Suzano no processo de gravação.
No álbum Shinkansen, Marcos Suzano, além de gravar no estúdio Nas Nuvens do Liminha, registrou muitas coisas de percussão também no seu no home studio.
Marcos Suzano enfatizou que agora com o home studio, seu trabalho ficou bem mais acessível para todos que quiserem contratar seus serviços.
Violonista, compositor e arranjador, Ulisses Rocha é um dos músicos mais influentes que o Brasil já produziu.
Além do trabalho autoral, já participou de concertos e gravações com Al Di Meola, César Camargo Mariano, Eliane Elias, Egberto Gismonti, Hermeto Pascoal, Roberto Carlos, Margareth Menezes, Gal Costa e muitos outros gigantes.
Além de sua atuação como artista, desempenha importante trabalho na área didática como professor doutor do Departamento de Música da Unicamp e como professor convidado na University of Florida.
Uma lenda do violão e guitarra, ele nos conta porque prefere registrar seu violão em home studio.
No áudio acima, como gravar no próprio home studio tem ajudado Ulisses Rocha nas demandas de criação e produção.
Ulisses Rocha: Olha, curto fazer em casa. Para mim é melhor, faz total diferença. Eu tenho feito bastante coisa assim, à distância. Enfim, eu acho que veio para ficar. Não vejo possibilidade de haver um retrocesso nesse aspecto.
Há projetos que não tem como, você tem que gravar no estúdio comercial, porque nós temos limitações. Entrou baixo e batera na parada, já é legal ir para um estúdio maior. Meu espaço de gravação é limitado. Eu estou até construindo um espaço novo agora, no próximo ano. Um estúdio para ser acusticamente mais protegido e tal, pra eu ter maior liberdade.
Cada vez mais, estão me solicitando para projetos assim, gravados no meu home. Tem acontecido muito comigo, inclusive, [acontece de] o pessoal me ligar e perguntar, você faz uma participação, você grava aí na sua casa? E, claro, não tem problema, né? Então eu acho, sim, que a produção em home studio é uma coisa que vem para ficar.
Gravação de Ulisses em Home Studio
No áudio acima, quais vantagens Ulisses Rocha vê no trabalho de gravação à distância, feita no próprio home studio.
Ulisses Rocha: Eu uso uma Universal Audio de interface, aquela Apollo Twin. Eu acho que é uma máquina bem legal. De microfones, depende do violão. O microfone é o seguinte: Sabe qual o melhor microfone para violão? Não existe. Existem alguns que são muito bons, dependendo do violão e dependendo de que tipo de som você queira tirar.
Cada microfone tem um “range” de ação e cada violão mostra para você uma coisa diferente, e você tem que ver o que quer esconder, o que quer mostrar. Então, há microfones que são tipicamente funcionais para o violão. Você tem uma gama de possibilidades muito grande. Um deles é o AKG 414, tem o Neumann, aquele que é mania, todo mundo usa, que é o KM184, que funciona para mim, apesar de achar ele um pouco agudo demais. Tem os Neumann clássicos U87, que são também maravilhosos, mas que são uma fortuna. Não é todo mundo que pode ter uns três/quatro mil dólares.
E tem uma categoria de microfone da qual eu gosto, que são os microfones de fita. Eu uso o Bayer, que é o mesmo que o Ralph Towner usa nos shows ao vivo. Então, quando eu tenho um violão, acho interessante o microfone de fita pra gravar. Ele tira um som extremamente natural, porque você pega, por exemplo, o AKG 414, ele além do som do violão, ele vai te trazer um monte de elementos, um monte de coisa que na verdade o teu ouvido normalmente não está escutando. Quando você toca o violão, na hora em que você liga o microfone, você vai ouvir um outro som de violão, normalmente mais sensível, com os agudos aparecendo, com tudo aparecendo muito.
Quando você gravar com microfone de fita, você vai ouvir algo muito parecido com aquilo que você está tocando, isso é muito confortável. Isso dá uma sensação agradável para quem escuta o seu violão, dá uma sensação muito boa de maciez, o som fica mais macio.
Por isso, percussionistas gostam dos microfones de fita. Eles são muito usados para percussão, são muito usados para colocar na boca do amplificador de guitarra. Gostam muito desse tipo de microfone para fazer bateria, instrumentos de sopro, trompete. É muito comum você ver um trompetista gravar com microfone de fita, então é uma categoria que tende a funcionar muito bem com violão, principalmente o violão que fala um pouco mais ardido, mais agudo. Quando o violão é mais opaco, aí já não é a escolha legal.
Então você precisa ter uma ideia de qual é o instrumento, saber que tipo de som você quer tirar e aí você adequa o tipo de microfone e a posição onde ele vai ficar na frente.
Todos esses são aspectos diferentes e vão te causar um efeito diferente. Então eu procuro pesquisar bastante isso antes de gravar e depois eu saio gravando.
No áudio acima, se Ulisses Rocha pudesse escolher apenas um microfone para gravar seus violões, qual seria?
A guitarrista brasileira que tem conquistado o mundo, foi convidada por Joe Satriani para ser uma das artistas do G4 Experience 2019.
Seu terceiro álbum , “Far More”, que foi aclamado pelo público, teve como banda os lendários: Nathan East (baixo), Vinnie Colaiuta (bateria) e Greg Phillinganes (teclados e pianos). Este álbum ainda teve participações especiais de Joe Satriani na faixa Glimpse of Light e Siedah Garrett na faixa Man in The Mirror.
Lari com participação de Joe Satriani nesta faixa avassaladora.
Lari Basilio lançou, com a Ibanez Guitar, sua primeira guitarra signature, a Ibanez LB1, que é um dos modelos signatures mais vendidos da marca, ao lado de Steve Vai e Joe Satriani. A guitarra conta também com os captadores signature Lari Basilio, desenhados em parceria com a Seymour Duncan.
O mais recente álbum de Lari Basilio, “Your Love”, foi lançado em Agosto de 2022 e estreou nas primeiras posições das Charts de Rock do iTunes em diversos países . Lari contou com a participação de Vinnie Colaiuta (bateria), Sean Hurley e Leland Sklar (baixo) e Ester Na (teclados e piano). O álbum foi gravado na United Recording Studios, em Los Angeles.
Lari Basilio: Eu acredito que tudo influencia, desde a guitarra que você escolhe, os pedais, o amp, os captadores, as mãos e até os cabos, tudo influencia.
No áudio acima, a guitarrista narra sua busca pelo timbre perfeito.
Lari Basilio: Exatamente isso. Eu sempre gostei muito de Telecaster, e é a história dessa guitarra signature. Eu já estava em contato com eles há muito tempo, desde que eu me mudei para Los Angeles. Muitas empresas entraram em contato querendo trabalhar junto, fazer projetos juntos, mas aí a Ibanez me apresentou esse projeto. Daí vieram falar comigo e, como eu sempre fui muito fã de Telecaster, realmente me interessei. Eu escolhi realmente a dedo a Ibanez e decidi: – Eu quero trabalhar com a Ibanez, eu quero desenvolver a linha signature com a Ibanez. E eu tive, graças a Deus, a oportunidade maravilhosa de desenvolver com eles a guitarra que sempre sonhei. Eu já tinha essa ideia aqui e eles me deram toda a liberdade de colocar tudo que eu queria.
E aí, é como você falou, aqui no braço é o captador Telecaster. O Humbucker na ponte é aquele para mim que eu preciso para músicas mais rock, para que ela possa me atender na parte mais pesada das minhas músicas. E esse captador do meio? Eu acho que ele tem um visual meio tele, meio strato, porque ele é redondinho como o de tele, mas ele é aberto, você consegue ver os polos. Mas eu queria que ele realmente tivesse som mais de strato mesmo.
A idéia é fazer um mix legal e realmente tornar essa guitarra versátil pra todos os sons que eu preciso nas minhas músicas. A minha ideia era realmente ter uma guitarra que pudesse ser o mais versátil possível e tocar em uma guitarra que pudesse fazer tudo, tudo que eu precisasse. Inclusive, colocamos o tremolo, que também é um feature que eu uso bastante. E aí tem muitas combinações aqui com essa chavinha que a gente seleciona e, então, você tem nove combinações de captadores diferentes.
Lari com suas ferramentas essenciais
No áudio acima, Se Lari Basilio pudesse escolher somente um amplificador e um microfone para gravar suas guitarras, quais seriam?
O baixista Enéias Xavier já dividiu o palco e gravou com grandes nomes da música nacional e internacional em seus quase 30 anos como profissional. Entre eles, Milton Nascimento, Toninho Horta, Chris Potter, Flávio Venturini, Beto Guedes, Nelson Ângelo, Vander Lee, João Alexandre, Maria Schneider, Nenê, Chico Amaral, Márcio Montarroyos, Hélio Delmiro, Diante do Trono e MG Big Band.
Enéias Xavier foi vencedor do III Prêmio BDMG-Instrumental (2003) e do Prêmio Marco Antônio Araújo com o CD Jamba, seu primeiro álbum.
Com três álbuns lançados, já participou e produziu outros tantos que dá para perder a conta. Mas vale ressaltar que em 2021 participou de várias produções em estúdio, dirigindo Milton Nascimento, Beto Guedes, Nelson Ângelo, Flávio Venturini, Telo Borges, Tavinho Moura e Toninho Horta. Isso, só para tocar na ponta do iceberg.
Enéias Xavier: A chama foi simples, minha esposa disse que meu quarto tava muito cheio de coisas e eu precisava de um lugar pra guardar esse negócio. Ela disse pra levar pra casa da minha mãe, e quando eu desci as escadas do meu prédio eu vi uma placa de aluga-se em frente ao meu prédio. Na mesma hora liguei e aluguei. E quando entrei na loja, vi que era um lugar gigante com seis metros de altura. Então com esse espaço todo, eu pensei, vou montar um estúdio.
Enéias Xavier: Eu fazia as pré-produções lá e depois levava para o estúdio. Mas eu nunca fui de sequenciar. Com o Diante do Trono, eu sequenciei uma época porque eles gostavam muito de pré-produção pronta, aí tinha que ficar exatamente como deveria ser depois. Aí eu gastava muito tempo, fazia as baterias, os baixos, tudo MIDI e tal. Mas, fora isso, minhas coisas são muito voltadas pra MPB mesmo, coisas de tocar. Tocar bateria, percussão, cantar, saxofone, flauta, instrumentos acústicos. E como aqui é em frente à minha casa, eu considero um home studio. A diferença é que logo no primeiro mês, um amigo meu do Diante do trono, o André Espindola, que tinha um equipamento incrível na época, me disse que tava sem espaço. Aí eu disse: Pô, vem pra cá! Aí nasceu um estúdio mesmo, né?
No áudio acima, qual o maior desafio que Enéias Xavier enfrentou nesse processo de gravar a si mesmo.
Enéias Xavier: O que considero mais importante no meu home studio são minhas caixas Genelec. Tenho duas grandes e elas me dão o som que tô acostumado há muitos anos. Também uso uma Yamaha TF1, às vezes usando como placa. Agora tô usando Sapphire com extensão da PreSonus. De microfones, eu gosto de usar o par Shure C3000, ATM4040, pra saxofone e voz fica maravilhoso. E uso dois Neumann TLM 103. Além dos prés da Sapphire e da Yamaha, eu uso um pré da Aguilar, que é um pré para baixo, mas, como é um pré com equalizador, pra gravar qualquer coisa é incrível.
No áudio acima, Enéias Xavier conta como enxerga o papel do home studio hoje, na vida do músico profissional.
Um dos últimos registros do Beto Guedes foi feito no home studio do Enéias e, além do seu equipamento regular, usou dois Neumann vintage que um parceiro emprestou.
Beto Guedes e Enéias gravando versão de Jesus a alegria dos homens, de Bach.