Por: Letícia Soares
As gravações musicais caseiras vêm explodindo desde o início de 2020. Em meio à pandemia da Covid-19, o mundo inteiro se viu obrigado a permanecer em casa o máximo possível. Isso se refletiu na produção musical, e cada vez mais músicos estão migrando para o home studio.
Mas não é de agora que o home studio vem sendo uma opção para músicos profissionais. Nos últimos anos, as gravações em estúdios caseiros alcançaram um alto padrão de qualidade e inclusive hits ganhadores de Grammy – como Lil Nas X com a música “Old Town Road” e Billie Eilish, com o álbum “When We All Fall Asleep, Where Do We Go?” – foram gravados em estúdios simples em casa, com equipamentos e estruturas super acessíveis.
A cantora Billie Eilish, ao receber o prêmio Grammy de 2020, pela canção Bad Guy, que compõe seu álbum produzido em casa
Outro exemplo é o músico Jacob Collier, um dos indicados a Álbum do Ano no Grammy 2021, que se tornou mundialmente conhecido em 2016 pelo álbum de jazz “In My Room”, produzido em casa. O jovem fez todo o trabalho de composição, gravação e produção sozinho, o que rendeu, na época, seus primeiros prêmios no Grammy, por Melhor Arranjo Instrumental com Acompanhamento de Voz e Melhor Arranjo Instrumental.
Antes, produzir música não era uma atividade fácil e barata. Nem todo mundo podia bancar uma produção de alta qualidade, que chegava a custar milhares de reais em estúdios profissionais. Recursos tecnológicos ainda não haviam avançado tanto; eram escassos e caros. Muitos músicos tinham que apresentar seu material a diversos produtores e esperar pacientemente até que suas composições fossem aceitas para gravação, para que, assim, os custos diminuíssem.
Mas, com o avanço da tecnologia, tudo isso mudou. Músicos e produtores independentes conseguiram se inserir mais no mercado devido ao crescimento
do uso de estúdios caseiros – os home studios. Com a digitalização do áudio e suas infinitas possibilidades, as produções feitas em casa começaram a fazer parte do mercado fonográfico de maneira profissional.
Com o computador, softwares e muita criatividade e disposição, músicos de grande talento se viram habilitados a mostrar suas faixas para o mundo, mesmo sem ter à mão um estúdio profissional. Aquela realidade que impedia muitos profissionais de produzir música ficou para trás.
O mercado musical foi um dos primeiros a serem afetados pela pandemia da Covid-19 desde o início de 2020 e passou a enfrentar desafios. Boa parte do faturamento do ramo é proporcionado por shows e eventos, o que não deve voltar a acontecer tão cedo, por causa das atuais restrições em relação a aglomeração de pessoas. Portanto, deve ser um dos últimos a retomar esse tipo de atividades.
Sendo assim, como a indústria da música pode continuar se desenvolvendo? E como o músico pode seguir recebendo remuneração? A resposta para estas perguntas passa pelo home studio. Novas formas de trabalho estão sendo criadas e o mercado musical tem se reinventado rapidamente em diversas áreas. Tem se tornado, inclusive, mais colaborativo do que nunca.
O isolamento social fez acelerar ainda mais um processo que já estava crescendo, o de produções independentes. Ao lançar mão de um vasto conteúdo de auto-aprendizado disponível na internet e, principalmente, da facilidade em obter um estúdio caseiro profissional de baixo custo hoje em dia, os músicos, agora, são inteiramente donos das suas próprias produções.
Milhares de beats, riffs, samples e composições de boa qualidade estão sendo criados ao redor do mundo, todos os dias, sem a necessidade de uma equipe completa de produção musical. O mercado das gravações remotas está aquecido e novas plataformas têm surgido, para facilitar esse processo.
Em especial destaque estão plataformas que permitem a conexão entre cantores, compositores, guitarristas, baixistas, bateristas, produtores, engenheiros de som, e outros diversos profissionais da música. Isso porque a demanda por criação e gravação de novas produções musicais continua em alta.
Antes da pandemia, o mercado da música seguia em grande expansão. Dados de 2019 compilados pela Federação Internacional da Indústria Fonográfica apontam que o mercado musical na América Latina foi o que mais cresceu pelo quinto ano consecutivo. O mesmo relatório mostra que o Brasil já é o décimo maior mercado do mundo na área.
Outra pesquisa recente feita pela Midia Research/Amuse revela que o segmento de artistas independentes é o que tem crescido mais rápido no âmbito do mercado musical. Esse segmento gerou U$873 milhões em 2019, um crescimento de 32% em relação a 2018, o que comprova que as produções em home studio estão em alta.
Na mesma pesquisa, 70% dos artistas independentes entrevistados relataram que o lockdown causado pela pandemia da Covid-19 em 2020 foi visto como uma janela criativa para compor e fazer mais música. Segundo eles, apesar das dificuldades, o momento é de encontrar novas oportunidades para criar e inovar.
A tendência é que, a partir de agora, o movimento da produção musical em home studio persista para além do período de pandemia. Isso significa mais oportunidades para artistas talentosos mostrarem seu trabalho para o mundo e terem mais chances monetizar suas habilidades.
Agora, é mais fácil lançar música, fazer parcerias, achar colaboradores e patrocinadores, sem depender de muita burocracia ou de grandes estúdios. E, ainda, alcançar uma audiência mais ampla e global.
O home studio veio para ficar. Com isso, o músico já não precisa mais esperar o melhor momento para gravar suas composições e fazer seu lançamento. Qualquer dia é um bom dia para fazer sucesso.